domingo, 14 de outubro de 2012

De volta à Terra do Nunca


Nunca a vida foi, e será, tão encantadora quanto nos dias em que eramos crianças. A cada dia um novo mistério à desvendar; uma nova brincadeira à brincar; um novo amigo a fazer; um novo machucado a conquistar; um novo presente a desembrulhar.
Tudo era muito grande ou alto demais: o sofá, a cadeira, o chinelo dos país, o armário de doces.
Era necessário pedir permissão; chorar quando não; rolar pelo chão; soltar um berrão...só para ficar mais quinze minutos em frente a televisão.
Verdura era horrível, pior que beijo molhado de tia. Se não era escola, cansaço não existia. Dançar era permitido e fofo, até em velório. Cantar era, muito mais do que verduras, necessário.
Uma rotina que dispensava virgulas. E não havia ataque que rompesse o campo de força de um abraço de mãe, a não ser, bronca de pai.
Sonhadores? Não: ambiciosos! Tudo era possível. A imaginação era tão enorme de grande que nos refrescávamos em sua sombra em dia de calor.
Inocentes egoístas irresponsáveis. Era nosso direito.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac. O tempo, aos poucos, traz consigo desejos que não mais podem ser conquistados com birra e choradeira. É necessário oferecer algo em troca. Oferecemos, então, a unica coisa que possuíamos: nossa infância. Sem garantias - a inocência nos cegará para esse tipo de previdência. A vida deixa de ser composta apenas pelo presente, o futuro se apresenta promissor. O passado, ainda que curto, começa a acumular em nossas bagagens.
De repente as alternativas deixam de ser tão claras quanto sabores de sorvete. Toda e qualquer decisão, daqui pra frente, virá acompanhada de suas fiéis escudeiras: as consequências.
A inércia causada pela dedicação da família aos poucos perde força, e a ação gravitacional das responsabilidades começa a fazer pressão sobre nossos caráteres. Passados alguns erros e enganos, o futuro mostra-se curto para os sonhos que ainda carregamos dentro da alma.
Se ao menos pudéssemos encontrar um lugar onde o tempo não mais cobraria seus juros; onde congelaríamos o melhor de nós para usar sempre que bem entendêssemos; onde a inocência nos completaria novamente. Se tal lugar existe, o que estaríamos dispostos a oferecer por ele?
Acredito que essa terra encantada sempre existiu em algum momento de nossas vidas, apenas nos esquecemos do caminho que nos leva até ela. Muitas vezes,  um simples pedido de desculpas, um abraço sincero ou um sorriso honesto  pode abrir as cortinas para um mundo outrora escondido entre rotina e indiferenças, no qual os julgamentos não teriam forças para nos seguir e nossas frustrações adormeceriam embaladas pelos conselhos daqueles que nos conhecem com intimidade e realmente se importam conosco, incondicionalmente.
E, mesmo que para alguns este lugar não exista, nunca é tarde para começar a construí-lo. Se não para você, ao menos àqueles que virão, ou estão.

Eu acredito em fadas!


















quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

DESCONSTRUINDO O MITO DOS FREELANCERS

Decidi "perder" um tempo traduzindo um artigo publicado no jornal The Guardian pela jornalista Teresa Wiltz pois é um insight muito interessante para desconstruir o mito de que vida de freelancer ou PJ é fácil e cheia de vantagens.
Vale lembrar que esta matéria foi escrita sobre os EUA, onde as legislações trabalhistas e o mercado de trabalho são muito mais acolhedores com este tipo de profissional do que aqui no Brasil. Então, antes de dizerem que nós temos a vida fácil, deem uma lida nesta matéria.


A economia está se recuperando, desemprego está baixo. Mas os velhos postos de trabalho se foram: Terceiros sem benefício é o novo normal.



O que fica faltando na discussão sobre trabalho, trabalho, trabalho é isso: nós estamos nos transformando numa nação de freelancers. Os EUA não é mais uma sociedade industrial onde você pode contar com um emprego para toda a vida e um relógio novinho em folha na sua festa de aposentadoria. (Esquecendo sobre aquela pensão.) De acordo com o sindicato dos Freelancers, um em cada três trabalhadores estão agora trabalhando como freelancers, temporários, “permalancers”, perma-temps, terceirizados, trabalhadores contingentes, etc. Estes somam 42 milhões de freelancers nos EUA – pessoas que trabalham sem o benefício de empregados como plano de saúde, por exemplo.
Claro, existem vantagens em seguir esta rota independente – como, digamos, trabalhar de pijama e fazer yoga quando bem entender. Mas para muitos trabalhadores contingentes, tal autonomia está longe de ser algo idílico.
Ninguém mencionou nesta última sexta, quando no meio de um braço de ferro apocalíptico sobre a economia global, houve um momento de esperança: a última estimativa de postos de trabalho lançada pelo Bureau of Labor Statistics. Desemprego caiu; postos de trabalho subiram, mesmo entre a comunidade negra, onde o desemprego foi, teimosamente inflexível. A taxa de desemprego não era tão boa desde 2009. Wall street se mobilizou; o presidente fez a dança da vitória, implorando para que o Congresso mantenha a economia se movendo e os cortes em despesas cada vez mais severos.
Nada disso vai mudar a vida destes trabalhadores contingentes.
É difícil mensurar quantos freelancers existem nos EUA; isso porque o governo federal parou de observar esta força de trabalho desde 2005. Isso, claro, foi antes da economia afundar e a grande recessão nos fazer de reféns. Eu apostaria que muito mais trabalhadores estão voando sozinhos sem a rede de proteção que teriam como CLTs. Os trabalhadores que vivem de contratos hoje são advogados, jornalistas, artistas gráficos, contadores, cinegrafistas ...  qualquer que seja o trabalho, a vida independente frequentemente significa flutuar de projeto em projeto,  ganhando a vida através de diferentes fontes. Se você tiver sorte.
Alguns fazem isso por opção; outros porque não há opção. Como eu mencionei anteriormente, empresas a muito tempo perceberam que é muito mais barato contratar um PJ do que colocar alguém na folha de pagamento. “Vêm aumentando o numero de trabalhadores por contingência,” diz William Rogers, economista da Rutgers University. “Uma boa parte disso se dá aos projetos de redução de custos dentro das empresas e pela maneira como a tecnologia reestruturou o trabalho.” Hoje, diz Rogers, o sindicato que mais cresce é o dos freelancers. (Para divulgar: Eu sou uma freelancer do The Root; e recentemente me juntei ao Sindicato dos Freelancers.)
Mas trabalhadores contingentes são uma massa vulnerável. Geralmente, eles trabalham tempo integral ao lado de empregados salariados em um escritório, mas como freelancers, eles não têm direito à seguro desemprego caso sejam demitidos. Nem há muita escolha para eles caso sofram algum tipo de discriminação, ou até se seu cliente/chefe decidirem não pagá-los. Depois, existe o pesadelo de encontrar planos de saúde individuais rentáveis. Muitos trabalhadores independentes simplesmente vivem sem nada disso. Uma amiga sem plano de saúde, que possui uma pequena gráfica de livros, brinca que ela cuida da saúde através da alimentação e de um estilo de vida holístico pois não consegue pagar um plano de saúde particular.
De acordo com o Departamento do Trabalho, empregadores confundem seus terceirizados com empregados registrados em carteira, trancafiando seus freelancers sem benefícios: como desconto em impostos de seguro saúde que eles já estão pagando por conta. Para freelancers é muito, mas muito mais difícil de qualificar-se para um empréstimo, refinanciar sua hipoteca ou, se houver algum dano por problemas climáticos em suas casas, encontrar descontos em programas de reparos de casas.
Disseram para uma mulher que conheço que a empresa que estava considerando contratá-la faria isso apenas na base de um contrato (terceirizado) – eles não queriam agregar as despesas de contratá-la por causa de suas altas despesas médicas. (Ela não conseguiu o trabalho). Outro, pensou ter conseguido um belo emprego com ótimo salário e uma posição de tempo integral numa grande companhia de software. Mas, de repente – logo quando ele estava pronto para assinar os papéis – a empresa declinou sua proposta. Ao invés disso, eles o disseram que poderiam apenas oferece-lo um contrato baseado em projeto-por-projeto.
Se esta é a forma que a nossa economia está organizada agora, então precisamos de redes de proteção para trabalhadores independentes. E precisamos começar aceitando, como nação, que enquanto está tudo muito bem em falar sobre criação de emprego, para muitos de nós, um bico regular das 9:00 às 17:00 não é mais uma realidade. O trabalho mudou; o trabalhador americano esta mudando. Os paradigmas da velha escola do trabalho não se encaixam mais.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A VERDADE ESTÁ LÁ FORA

Semestre passado fui convidado pelo coordenador do curso de Engenharia de Produção da Universidade Cruzeiro do Sul à fazer parte do conselho de seu curso.
Na última reunião coloquei em pauta a completa alienação da gestão pedagógica das universidades (públicas e privadas) com relação as demandas e expectativas de mercado. Para ilustrar meu ponto de vista utilizei o exemplo do ensino da língua inglesa: se até as mais medíocres vagas no mercado de trabalho, oferecidas àqueles que possuem nível superior completo, determinam o inglês fluente como primeiro item de corte para seleção entre seus candidatos e a principal função da universidade é preparar o aluno para o mercado de trabalho, por que então o ensino do inglês não faz parte do plano de ensino destas?
Claro que esta discussão é um pouco mais complexa do que coloquei aqui, mas a principal questão é que ainda não fosse uma exigência de mercado a língua inglesa nos dá acesso à um acervo quase infinito de informações e dados importantíssimos para o desenvolvimento intelectual de qualquer pessoa e, muitas vezes, de forma gratuita. Se não acredita em mim, faça uma pequena pesquisa no Wikipedia e verás. Procure por algum assunto nas páginas em português e depois procure no site em inglês, a diferença de conteúdo e revisões é gritante (conforme abardou o professor-doutor Luli Radfahrer em sua coluna publicada na Folha).
E se mesmo assim você ainda não se convencer, dê uma espiada neste site idealizado pelo professor Salman Khan de Harvard www.khanacademy.org/. São vídeo-aulas sobre uma gama gigantesca de disciplinas e diferentes assuntos. O site já conta com mais de 2.800 videos, todos (claro) em inglês.
A manutenção da língua inglesa deve ser tratado como item de infraestrutura se quisermos evoluir de alguma forma. O inglês é a maior e melhor estrada que nos leva ao conhecimento.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

GRANDES ENTREVISTAS #1 Tufi Duek - Roda Viva 30/01/2012

A partir deste ano postarei entrevistas de diversos programas que acredito serem de grande relevância para o desenvolvimento intelectual daqueles que acham isso importante.
Na primeira delas escolhi algo mais recente, do programa roda viva desta semana. O time de entrevistadores não poderia ser mais medíocre, dado o calibre do entrevistado, deixaram de fora temas muito interessantes de serem abordados por um dos maiores empresários da moda mundial como sustentabilidade e trabalho escravo. Não é de se espantar que a melhor pergunta tenha vindo de uma internauta, perguntando a opinião do entrevistado sobre as parcerias de lojas de departamento com estilistas, onde o entrevistado mostra toda sua visão de empresário ao defender a importância dos limites e restrições de mercado para forjar um grande profissional.
De qualquer forma esta é uma grande oportunidade de conhecermos o perfil de um verdadeiro profissional, coisa rara em terras tupiniquins onde o jeitinho brasileiro entorpece a nossa razão fazendo-nos acreditar que só chega lá quem é pilantra.

PRIMEIRO BLOCO



SEGUNDO BLOCO



TERCEIRO BLOCO



QUARTO BLOCO

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

MAIS VALE UM PÁSSARO NA MÃO DO QUE DOIS NO ESTOQUE

"Estar preparado para a guerra é um dos meios mais eficazes de preservar-se a paz"
Não, esta frase não foi dita por César, Maquiavel ou Hitler. George Washington, o patrono dos EUA, é seu autor.
Mas, pensando bem, tal ideologia não poderia partir de outro lugar. O governo norte-americano gasta aproximadamente 5% do seu PIB com o Departamento de Defesa; 35% de todos os gastos com forças armadas no planeta pertencem aos Estados Unidos que também possuem o maior arsenal nuclear do mundo.
Estar preparado é um mantra entoado pelo país desde sua constituição. Mas todo esse preparo só foi possível através do desenvolvimento de sistemas de planejamento e logística extremamente eficientes. Essa é uma das vantagens de ser uma potência bélica que participou de todas as guerras travadas no mundo ao longo das últimas décadas, direta ou indiretamente. As teorias mais avançadas sobre planejamento e logística utilizadas atualmente são provenientes da Segunda Guerra Mundial. O que faz todo sentido pois, em período de guerra, vence o lado que consegue suprir suas necessidades na hora e no lugar certo otimizando os recursos disponíveis. Afinal de contas, seria uma catástrofe se as balas acabassem antes dos inimigos.
Após a grande guerra o então secretário da defesa, Robert Mcnamara, teve a brilhante ideia de contratar os famosos Whiz Kids - um grupo de jovens especialistas que trabalhavam na RAND Coorporation, responsável pelo estudo e criação de estratégias militares durante a segunda guerra - para trabalhar no departamento de defesa desenvolvendo tecnologia e estratégias para a nova era nuclear, que viria tornar-se a famosa guerra fria. Porém, muitos destes jovens gênios dividiam seu tempo entre pentágono e as maiores universidades e centros de pesquisas do país. Um deles, o Dr. William Kaufmann, era membro da faculdade de ciências políticas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) durante a década de 60, na qual o instituto finalizou seu período de reforma pedagógico que ocorria desde o começo da segunda guerra.
Não é preciso ser um whiz kid para saber quem foi o maior patrocinador desta reforma: o Departamento de Defesa Americano.
"Coincidentemente" foi durante este período que o MIT desenvolveu um dos jogos mais utilizados em escolas de de negócio de todo o mundo, o Beer Game.
O jogo simula uma cadeia de suprimentos onde cada grupo fica responsável por uma etapa do processo. O desafio do jogo é manter um estoque baixo e atender a demanda do grupo que representa seu cliente dentro da cadeia. A pegadinha está no fato de que paga-se o dobro por caixa de cerveja não entregue em comparação com um caixa no estoque.
A demanda é definida por um maço de baralho, onde o representante do varejo tira uma carta no começo de cada rodada para descobrir qual o novo pedido. Os outros grupos (atacado, distribuidor e fabricante) não fazem ideia do valor da carta, assim como o varejista, a princípio, também não faz ideia de quanto será o próximo pedido das cartas. Após algumas rodadas, o baralho segue um padrão, solicitando sempre o mesmo valor a cada rodada. Ao final do Jogo os grupos fazem dois gráficos: um para o estoque ao longo do tempo e outro para os pedidos realizados. A diferença entre os gráficos apresentados é gritante. Comparando-os, nem parece que representam uma mesma cadeia.
É aí que entra a genialidade de nossos prodígios do MIT. Não importa quão preciso for o método de previsão utilizado pelo grupo para definir o padrão de demanda visando otimizar o estoque pois, na melhor das hipóteses, esta previsão só mostraria o nível de incerteza do grupo predecessor na cadeia. Tal fato transforma a definição do pedido a ser passado para o grupo subsequente (fornecedor) em mera especulação. Esse processo repete-se ao longo das rodadas, gerando o caos posteriormente apresentado nos gráficos.  Nem a estabilização do mercado, através das cartas, é suficiente para corrigir o problema e colocar o processo no prumo, pois uma vez que a incerteza e a cultura da especulação se instalam dentro do sistema é preciso adotar medidas radicalmente austeras para equalizar o processo novamente, mas dificilmente algum participante da cadeia vai dar o braço a torcer.
Especulação; Incerteza; Austeridade. Tais expressões não poderiam estar mais em voga. Isso porque o Beer Game carrega o código por trás de todas as crises que nos atormentam ao longo dos séculos: a atrofia do pensamento sustentável. O jogo traz a tona a importância de todos os envolvidos em qualquer tipo de processo entenderem o contexto onde estão inseridos de forma abrangente e o impacto de suas ações dentro do sistema. É necessário entender as necessidades de seus clientes e não, cegamente, supri-las. Somente desta forma as especulações darão espaço para previsões responsáveis.
No jogo, todos os grupos querem se livrar da batata quente que é o estoque alto sem pensar nas consequências que isso traz para o restante da cadeia. O Brasil fez exatamente isso no final do século XIX quando viu a oportunidade de queimar boa parte de seu estoque, devido à sua recente independência dos domínios exploratórios portugueses, inundando o mercado com grãos de café. Com isso, o preço do café caiu drasticamente e o Haiti, que já vinha fragilizado e dependia totalmente da cultura do café, afundou-se numa crise da qual ainda não conseguiu se levantar. Esse é um dos motivos pelo qual o país possui horário fixo na agenda do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) seja qual for o presidente ou partido no poder de nosso país.
A Grande Guerra não foi vencida por um só país, mas por um conjunto de nações aliadas e alinhadas através de um objetivo comum. Os países perdedores sim, estes perderam sozinhos, debruçados sobre gráficos e mapas que ilustravam nada além  de suas ganâncias.



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

EM TERRA DE CERTEZAS QUEM TEM DÚVIDA É REI


“Seu tempo é limitado, então, não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa. Não caia na armadilha do dogma que é viver através do resultado do pensamento alheio.”
Este é um trecho do discurso feito por Steve Jobs (Ex-CEO da Apple) na cerimônia de formatura da turma de 2005 da Universidade de Stanford, California.
Jobs é uma figura interessante não somente pelo sucesso que alcançou ou pelos produtos que criou, mas pelo fato de ser a prova viva de que todas as teorias sobre gestão de capital humano e intelectual - ou, ao menos, suas práticas – tornam-se irrelevantes quando levamos em conta o universo de incertezas e metamorfoses aos quais estão expostas. Utilizar a história de Jobs em palestras sobre liderança e inovação virou regra, mas ele, definitivamente, é uma exceção.
As  iniciativas para desenvolver, captar e manter funcionários chaves em empresas, de maneira geral, não apresentam resultados justamente porque reproduzem um padrão de comportamento - outrora bem sucedido - formado exclusivamente por um contexto que não existe mais. Ou seja, o mundo já está vacinado contra Steve Jobs, qualquer pessoa ou organização que tentar seguir seus passos será atacado por anticorpos sociais e, fatalmente, padecerá.
Empresas e pessoas singulares só conseguem alcançar seus objetivos no momento em que fecham seus olhos para o abismo formado pelas teorias sobre liderança, inovação e sustentabilidade - criadas por Gurus Intelectuais - e atravesam-no sobre uma ponte estreita formada pelas suas próprias convicções. No entanto, tais convicções só apresentarão resultados se forem oriundas de um pensamento altamente crítico sobre as certezas que as influenciam. A sociedade tem certeza absoluta sobre os problemas ou duvidas a que devem solucionar, e isso é passado de geração a geração ou de gestor a gestor – como o dogma descrito por Jobs, ou como a famosa experiência dos macacos. Chegamos num ponto onde aqueles que realmente conseguem fazer alguma diferença são os que duvidam da finalidade e sentido das questões que conduzem os esforços de uma determinada classe.
O Google é um bom exemplo disso. Enquanto outras empresas concentram seus recursos em solucionar o problema dogmático da escassez de lideres, tentando fabricá-los in vitro – mesmo sem ter a mínima ideia do quanto, ou quantos, ou se eles são realmente necessários - o Google simplesmente os atraí. E o fazem independentemente de qualquer tipo de classificação tendenciosa sobre seus perfis. Não vejo propagandas ou anuncios do Google (ou Apple) dizendo: Vagas abertas apenas para candidatos da Geração Y.
Dentro dessas empresas ou comunidades singulares, as gerações convivem em harmonia pois foram atraídas por uma mesma causa e objetivo, não precisaram ser convencidas de nada. Esse é um dos motivos pelo qual não faz sentido discutir sobre geração X, Y ou Z em culturas como a do Japão, por exemplo, onde é uma tradição quem define o papel e as responsabilidades do cidadão. Esta é uma das muitas razões porque modelos de negócio Japoneses, assim como o modelo Google, são tão difíceis de serem seguidos ou replicados em outros lugares, ou empresas, do mundo.
A divisão das gerações por classes deve ser tratada como um conjunto de dados – que, aliás, fazem mais sentido em algumas regiões do emisfério norte – e não um conjunto de informações ou regras. Esse tipo de classificação tem valor justamente porque joga uma balde de água fria em qualquer iniciativa de governos e empresas de tentar abstrair algo do presente transformando isso em previsões de mercados futuros. Se já é complexo lidar com as gerações que convivemos e conhecemos, pobre daquele que especular sobre as que virão.
Aqueles que definem suas estratégias e comportamentos baseados em previsões do futuro investem contra sua própria evolução, pois assumem o papel de que em nada mudarão até lá. Esta é a fórmula infalível para a criação de Bolhas como as que estouraram na última década. Como disse o pensador e humanista francês Michel de Montaigne: “A mais vasta parcela do que sabemos é menor do que a mais diminuta parcela do que ignoramos”
Mais importante que traçar objetivos é delimitar responsabilidades. As discussões sobre liderança, ou formação de líderes, e a manutenção das particularidades ideológicas das gerações não fazem sentido se forem tratadas apenas em ambientes privados e de forma competitiva.
Em períodos de seca todos os que dependem da fertilidade do solo para sobreviver sofrem, independente de suas vantagens competitivas com relação à seus concorrentes. É paganismo e bruxaria achar que, apelando para alguns Deuses, pode-se fazer chover em apenas uma plantação. Embora muitos gestores, políticos e economistas concordem com essa afirmativa, quase todos a praticam e, irresponsavelmente, a estimulam.
Assim como a formação da chuva é um fenômeno da natureza, a formação de capital humano é um fenômeno social. Líderes não nascem dentro de empresas – essas podem, no máximo, criar gestores alinhados às suas ideias (paradigmas) sobre liderança. A unica instituição que pode auxiliar na formação de líderes é a escola. O papel das empresas é criar um ambiente adequado para que esses profissionais possam desenvolver-se de maneira saudável através da reavaliação do termo competitividade. Mas só conseguirão atingir esse objetivo quando começarem a integrar suas estratégias aos interesses e necessidades das comunidades  onde estão inseridas, garantindo recursos para que estas possam produzir de maneira orgânica o equilíbrio de recursos humanos e intelectuais necessários para um desenvolvimento sustentável de mercado.
Enquanto estes comportamentos não mudarem, nunca entraremos na era da colaboração de maneira integrada. De fato, seremos enterrados pela era da competição.




O PREÇO DO VALOR

Nada vejo por essa cidade
Que não passe de um lugar comum
Mas o solo é de fertilidade
No jardim dos animas em jejum


No primeiro verso de seu clássico "Jardim das Acácias", Zé Ramalho descreve de maneira exemplar dois fatores sócio-econômicos que conduzem tudo a nossa volta: oferta e demanda.

Qualquer noção de valor está diretamente relacionada à relevância (escassez) de algo dentro de um determinado contexto. A questão torna-se crítica, não pelo valor dado à qualquer coisa que seja mas, no momento onde é definido um valor padrão a ser utilizado como o peso da balança. É nesse ponto que a humanidade vem fracassando sistematicamente.
O alumínio já foi muito mais valioso que o ouro, devido à sua ocorrência restrita por meios naturais e pela falta de conhecimento tecnológico da sociedade, em um determinado período, para extratificá-lo da natureza. Hoje, porém, é um dos metais mais baratos e reutilizados do planeta. Mas o preço pago pela sua obtenção é altíssimo apesar de seu baixo valor específico: as mineradoras deixaram uma cicatriz enorme no bioma terrestre devido a desvalorização de conceitos que regulavam, de maneira sevéra, as decisões de uma comunidade no passado. O peso da balança fora substituido em periodo deinovação e ganância. O resultado disso é que a natureza - outrora tratada com respeito, temor e submissão - vêm cobrando seus juros acumulados ao longo dos séculos resultantes do descaso humano em favor de uma vida mais sofisticada e próspera.
Ainda que, nos dias de hoje, tentássemos apelar aos Deuses por um possivel bailout, não conseguiríamos coletar oferendas suficientes para acalmar-lhes o ânimo dada a voracidade com que consumimos os recursos naturais e intelectuais que nos foram ofertados. 
Trocamos natureza e qualidade de vida pela overdose de supérfluos e conforto. Preferimos manter a respiração por aparelhos à submetermo-nos ao incoveniente de respirar o ar poluído por nossa conduta. A idéia de desenvolvimento sustentável está a beira do colapso, uma vez que nada mais pode ser feito sem uma dose cavalar de sacrifício - o diafragma da sociedade atrofiou-se pelo desuso e, em caso de mau funcionamento dos aparelhos (politica e economia), o afogamento é inevitável.
A desvalorização da classe dos professores no mundo todo é um dos sintomas de um colapso social vindouro resultante dessa atrofia, ou preguiça, social. Embora a demanda por professores seja altíssima, sua oferta é inversamente proporcional. Jejuamos em terreno fértil.
Os motivos que levaram à erosão desse solo sagrado da educação nunca estiveram tão em pauta. Em março deste ano, lideres e ministros da Educação de 16 países - que apresentaram alta performance e alto nivel de aprimoramento em seus sistemas educacionais de acordo com o relatório PISA 2009 - reuniram-se em Nova York em um fórum internacional organizado pela Asia Society para discutir, pela primeira vez na história, o futuro sobre a profissão de professor.
Essa reunião de cúpula é mais um sintoma positivo de um virus ideológico que vêm forçando nosso matabolismo social, desde o final da década de 60 com a criação do Clube de Roma, a funcionar à despeito das máquinas a que está ligado.
Cada vez mais, a própria sociedade discute a reavaliação dos pesos da balança que define seu futuro. As atuais manifestações populares no Oriente médio, que resultaram na queda de ditadores até então blindados pelos interesses capitalistas globais, ajudam a comprovar esta teoria.
Empresas e governos, por sua vez, também discutem diariamente a necessidade de reduzir custos e despesas - seus ditadores cruéis - para que consigam manter a funcionalidade de suas operações. Mas a questão é que estes custos são gerados justamente pela ineficiência e disfuncionalidade das operações vigentes. Se os políticos e gestores começarem a usar seus diafragmas, assim como a sociedade vêm fazendo timidamente, perceberiam que o ideal seria redistribuir seus custos - transformar o que é custo ou desperdício em uma operação em investimentos em uma outra - visando reestruturar o ambiente atual para atingir um equilíbrio saudável no longo prazo.
O futuro deve ser tratado, cada vez mais, de forma menos míope. A sociedade de hoje começa a levar em conta o preço a ser pago, juro, pelo valor dado aos seus costumes e vícios imediatos. Eduardo Giannetti faz uma reflexão extremamente sóbrea e inteligente sobre esse tema em seu livro "O Valor do Amanhã".
Mas será que ainda há tempo para nos salvarmos? Será que esse momento de lucidez social é realmente genuíno ou não passa de mais uma manobra gananciosa para criar novos mercados negros - como os de crédito de carbono - que negociem as fianças pelo nosso futuro?
Uma coisa é certa: a galinha dos ovos de ouro - A  Mãe Natureza, nos sentidos literal e filosófico do termo - já deixou de botar seus ovos à algum tempo devido à greve de fome a que foi submetida pelo nosso estilo de vida predatório.
No momento que essa galinha resolver ciscar novamente a procura de comida, não sobrará grão algum da história de nossas existências.